A Civilização Mesopotâmica
A segunda das mais antigas civilizações do mundo foi,
provavelmente, a que começou no vale do Tigre e do Eufrates
mais ou menos em 3.500 ou 3.000 a.C. Por conveniência, os
historiadores se referem a essa civilização como "mesopotâmica",
embora seja às vezes o termo Mesopotâmia restringido à parte
norte da terra que fica entre os dois rios. A civilização
mesopotâmica era completamente diferente da egípcia. Sua
história política é assinalada por interrupções bruscas. Sua
composição racial era menos homogênea e sua estrutura social e
econômica oferecia campo mais largo à iniciativa individual.
Talvez fossem mais profundas as diferenças entre os ideais, a
religião e as atitudes sociais dos dois povos.
A cultura egípcia era
predominantemente ética; a mesopotâmica, jurídica. O desprezo
dos egípcios pela vida, excetuando-se o período do Médio Império,
era geralmente uma atitude de alegre resignação, relativamente
liberta de superstições grosseiras. A atitude mesopotâmica, ao
contrário, era melancólica, pessimista e inquietada por terrores
mórbidos. Enquanto o nativo do Egito acreditava na imortalidade
da alma e dedicava grande parte de seus esforços à preparação
da vida futura, seu contemporâneo mesopotâmio vivia no presente
e olhava com indiferença seu destino no além-túmulo.
Finalmente,
a civilização do vale do Nilo compreendia conceitos de
monoteísmo, uma religião de amor e igualdade social; a do TigreEufrates
era mais egoísta e desdenhosa. Sua religião raramente
ultrapassou o estágio dum politeísmo primitivo e seus ideais de
justiça se limitavam em grande parte à observância literal dos
termos de um contrato.
6. O LEGADO MESOPOTÂMICO
Não obstante a qualidade relativamente inferior da civilização
mesopotâmica, sua influência foi pouco menor que a do Egito. De
uma ou de outra das quatro nações mesopotâmicas recebemos
um considerável número de nossos elementos culturais mais
comuns: o ano de doze meses, a semana de sete dias; o fato de
os mostradores de nossos relógios conterem os números de um
até doze, correspondentes à divisão caldaica do dia em doze horas
duplas; a crença nos horóscopos; a superstição de fazer o plantio
de acordo com as fases da lua; os doze signos do zodíaco; o
círculo de 360 graus; e o processo aritmético da multiplicação.
A influência exercida por eles em várias nações da antiguidade foi
ainda mais significativa. Os persas sofreram profundamente a
influência da cultura caldaica. Os hititas, que ajudaram os cassitas
na destruição dos babilônio mais ou menos em 1.750 a.C.,
adotaram as tabuletas de argila, a escrita cuneiforme, a epopéia de
Gilgamesh e muito da religião da nação que conquistaram. A
religião babilônica influenciou também os fenícios, como se
evidencia da adoração de Astarte (Istar) e Tamuz. Dos sumerianos
ou dos antigos babilônios, os cananeus herdaram grande parte de
seu direito e também muitas de suas crenças religiosas.
Os
principais herdeiros da cultura mesopotâmica foram, porém, os
hebreus. Provavelmente já pelas alturas de 1.400 a.C., um de seus
patriarcas, Abraão, viveu por algum tempo em Ur, cidade do baixo
Eufrates. Numerosos traços mesopotâmicos foram também
adquiridos indiretamente, através do contato com os cananeus e
com os fenícios. Foi, possivelmente, desse modo que os hebreus
se apoderaram das lendas da Criação e do Dilúvio e dum sistema
de direito que tinham sua origem última na civilização
mesopotâmica. Uma influência ainda maior foi exercida durante o
período do Cativeiro, de 586 a 539 a.C. No espaço desses 47 anos
os judeus viveram, pela primeira vez, em contato intimo com uma
nação rica e poderosa.
A despeito do ódio aos opressores,
adotaram inconscientemente muitos de seus costumes. Há provas,
por exemplo, de que a predileção dos judeus pelo comércio foi
adquirida por influência da cultura mercantil da Babilônia. Além
disso, muita coisa do simbolismo, pessimismo, fatalismo e
demonologia dos caldeus passou para a religião de Judá,
corrompendo-a grandemente.
As instituições e crenças mesopotâmicas exerceram também sua
influência sobre os gregos e os romanos, embora de modo
indireto. A filosofia estóica, com suas doutrinas do determinismo e
do pessimismo, deve ter refletido esta influência em certa medida,
pois seu criador Zenão era semita, provavelmente um fenício.
Melhor exemplo duma origem mesopotâmica possivelmente será
encontrado em práticas romanas tais como a adivinhação, a
adoração de planetas como deuses e o uso do arco e da abóbada.
Muitos desses elementos foram introduzidos entre os romanos
pelos etruscos, povo de origem asiática ocidental. Outros foram
trazidos pelos próprios romanos em conseqüência de suas
campanhas militares na Ásia Menor. Comprova-se a existência, ao
menos nos últimos séculos da história imperial, de nativos da
região mesopotâmica residindo em Roma, pelo fato de usarem os
romanos o nome de "caldeu" como sinônimo de "astrólogo" e de
recorrerem a eles em numerosas ocasiões, como previsores do
futuro.
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